O
texto a seguir corresponde ao bem-humorado capítulo CXIX, intitulado
“Parêntesis”, das Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
Leia-o para responder ao que se pede:
Quero
deixar aqui, entre parêntesis, meia dúzia de máximas das muitas que escrevi por
esse tempo. São bocejos de enfado; podem servir de epígrafe a discursos sem
assunto:
* * *
Suporta-se
com paciência a cólica do próximo.
* * *
Matamos
o tempo; o tempo nos enterra.
* * *
Um
cocheiro filósofo costumava dizer que o gosto da carruagem seria diminuto, se
todos andassem de carruagem.
* * *
Crê
em ti; mas nem sempre duvides dos outros.
* * *
Não
se compreende que um botocudo fure o beiço para enfeitá-lo com um pedaço de
pau. Esta reflexão é de um
joalheiro.
* * *
Não
te irrites se te pagarem mal um benefício: antes cair das nuvens, que de um
terceiro andar.
01 - Entre
as seis sarcásticas máximas de Brás Cubas, há uma que pode servir para ilustrar
uma das discussões habituais entre os antropólogos. Que máxima é essa?
“Não se compreende que um botocudo fure o beiço para enfeitá-lo
com um pedaço de pau. Esta reflexão é de um joalheiro.”
02 -
Essa máxima revela um preconceito cultural. Explique-o.
A referência aos grupos indígenas que usam enfeites de madeira
em furos no lábio inferior mostra a incompetência do joalheiro em reconhecer a
alteridade, ou seja, a idéia de que as culturas humanas são diferentes entre
si. Talvez ele quisesse vender adereços de ouro ou prata a esses botocudos, o
que nos faz pensar se esse preconceito cultural não esconderia, na verdade, um
interesse econômico.
03 - Considere
as seguintes afirmações:
I - Ideologia
é um corpo de idéias, no qual são expressos os valores e verdades que têm, como
finalidade, preservar a ordem social.
II - Os
anúncios publicitários representam uma das formas de espalhar a ideologia.
III -
Ideologia é uma tentativa, por meio de idéias que serão transformadas em
verdades, de mascarar a realidade.
Está
(ão) correta(s):
a) todas as alternativas.
b) somente
a I.
c) somente
I e II.
d) somente
II e III.
e) somente
I e III.
04 - Acerca
do etnocentrismo, é incorreto afirmar que:
A) é
categoria central da antropologia, pois revela que as culturas devem ser
relativizadas.
B) seu poder de explicação sobre as diferenças culturais está
assegurado pela percepção do “outro” centrada no “eu”.
C) expressa
uma apreensão, no plano do pensamen to,
da tendência que os grupos possuem de colocar seus valores, visão de mundo e
costumes como centro de tudo.
D) o
barbarismo é uma forma de se atribuir a confusão, a desarticulação, a desordem
ao “outro”.
05 - A feijoada, o mais conhecido dos chamados
‘pratos nacionais’, tem como base a comida do cotidiano. Mas, nesse caso, a
dupla feijão com arroz, acompanhada pela farinha de mandioca, sofre uma
transformação não apenas no conjunto dos ingredientes, mas sobretudo em seu
significado, transformada em um prato emblemático – possuidor de um sentido
unificador e marcador de identidade – ou ‘típico’. MACIEL, Maria E. Uma
cozinha brasileira. Estudos históricos. Rio de Janeiro, n. 33,
janeiro-junho de 2004. p. 33.
Considerando
a alimentação humana como um processo social e cultural, assinale o que for
correto.
01.
Respeitada como
um conjunto de saberes e práticas sociais, a culinária de um povo compõe parte
de seu patrimônio cultural.
02.
Definir a
feijoada como prato tipicamente brasileiro implica considerá-la como uma
combinação de símbolos e classificações que representariam o “modo de ser”
desta nacionalidade.
04.
A combinação
arroz e feijão atende às necessidades nutricionais típicas da raça brasileira e
das deficiências biológicas oriundas da miscigenação entre brancos, negros e
indígenas.
08.
As restrições e
proibições alimentares de fundo religioso baseiam-se em interdições
nutricionais cientificamente comprovadas como maléficas ao sustento físico do
indivíduo.
16.
Diferentemente
dos chamados pratos típicos, que destacam as características das cozinhas
regionais, o fast-food configura-se num tipo de alimentação identificada
com o processo de globalização da cultura.
Resposta: 19 (01 + 02 + 16)
06 -
(UFPA) Em 20 de abril de 1997, alguns rapazes em Brasília atearam fogo no índio
pataxó Galdino Jesus dos Santos enquanto este dormia. Isso pode ser uma demonstração
de que indivíduos ou grupos pertencentes a sociedades diferentes, ou a grupos
diferentes, em uma mesma sociedade, em situação de contato, praticam atos
negativos e até bárbaros, evidenciando relação de alteridade, que se classifica
como:
a) etnocentrismo.
b) nacionalismo.
c) nativismo.
d) evolucionismo.
e) relativismo.
07 -
Com base nesse método, classificam-se as sociedades não adeptas da cultura
europeia como “exóticas”, “atrasadas”, “involuídas e arcaicas”, com uma
formação social primitiva, de uma religiosidade mítica e irracional. Trata-se
do método:
a) de
observação participante.
b) de
aproximação de semelhanças.
c) baseado
na pesquisa de campo.
d) tido
como único para compreender as diferenças sociais.
e) baseado na comparação.
08 -
(ENEM) Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592) compara, nos trechos, as guerras
das sociedades tupinambás com as chamadas “guerras de religião” dos franceses
que, na segunda metade do século XVI, opunham católicos e protestantes.
(...) não vejo nada de bárbaro ou
selvagem no que dizem daqueles povos; e, na verdade, cada qual considera
bárbaro o que não se pratica em sua terra. (...) Não me parece excessivo julgar bárbaros tais atos de crueldade [o canibalismo], mas
que o fato de condenar tais defeitos não nos leve à cegueira acerca dos nossos.
Estimo que é mais bárbaro comer um homem vivo do que o comer depois de morto; e
é pior esquartejar um homem entre suplícios e tormentos e o queimar aos poucos,
ou entregá-lo a cães e porcos, a pretexto de devoção e fé, como não somente o
lemos mas vimos ocorrer entre vizinhos nossos conterrâneos; e isso em verdade é
bem mais grave do que assar e comer um homem previamente executado. (...)
Podemos portanto qualificar esses povos como bárbaros em dando apenas ouvidos
à inteligência, mas nunca se compararmos a nós mesmos, que os excedemos em
toda sorte de barbaridades.
MONTAIGNE,
Michel Eyquem de. Ensaios, São Paulo: Nova Cultural, 1984.
De
acordo com o texto, pode-se afirmar que, para Montaigne:
a) a
ideia de relativismo cultural baseia-se na hipótese da origem única do
gênero humano e da sua religião.
b) a diferença de costumes não constitui um critério válido para
julgar as diferentes sociedades.
c) os
indígenas são mais bárbaros do que os europeus, pois não conhecem a
virtude cristã da piedade.
d) a
barbárie é um comportamento social que pressupõe a ausência de uma cultura
civilizada e racional.
e) a
ingenuidade dos indígenas equivale à racionalidade dos europeus, o que
explica que os seus costumes são similares.
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